Recife, 09 de julho de 2013
Por Gabriela Santana
O texto a seguir foi escrito
depois de uma vivência artística intensa na terceira residência ministrada por
João Fiadeiro (PT), agora, realizada em parceria com Fernanda Eugênio (PT/BR) e
de nome: Habitação Provisória Residência “ Handling_Tools ”, entre julho e
agosto de 2012.
Em seguida, fui questionada por
uma amiga interlocutora, Angela Souza (CE), que lançou questões sobre o
propósito do texto. Assim, não o publiquei considerando algumas questões
apresentadas por ela, imaginando resolvê-las em algum momento desta pesquisa.
Afinal, o que eu quero com esse
texto?
Pouco avancei na escrita, mas
sublinho que o principal intuito continua sendo o de criar espaço para
organizar minhas ideias. Colocá-las no mundo a procura de curiosos e
interessados... ver este texto em algum
lugar que não na pasta de arquivos...exercitar despretensiosamente minha
escrita...
ATIV(ação) número um*[1]
Por Gabriela Santana, em julho de 2012.
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Desde minha saída do Recife, em
julho de 2012, comecei a alimentar a sensação de que o texto acadêmico não dava
conta de necessidades tão poéticas e investigativas que se apresentavam na
imprevisibilidade inerente a esta pesquisa. E aí, fui inflando-me com
exercícios de reinventar formas de existir no mundo. Nesse sentido, foram vários os que me
inspiraram, dentre muitos queridos, conhecidos e desconhecidos, Duto Santana,
Fernanda Eugênio, Jaqueline Vasconcellos e Angela Souza, me
"alumiaram".
CAPOEIRANÇAS: capoeira, dança e
erranças
Afastando-me do exercício quase
diário de praticar capoeira em Salvador
-BA, cada vez mais absorvida das relações que me fazem euambiente agora Recife
- PE, e desta forma, pesquisando a mesma "coisa" de outros modos,
aproximo-me cada vez mais do meu ponto de partida. Novamente da relação entre
as lógicas que fazem da capoeira Angola, um terreno fértil para se pensar a
improvisação em dança.
Foi investigando aspectos
emergentes ao jogo da capoeira Angola tais como: correspondência,
complementação, oposição, negação, contaminação e tradução - aspectos estes que
surgem na interação entre os jogadores - que fui sendo
levada................................................................. a
pesquisar estruturas de relação como eixo para uma pesquisa focada na
improvisação como procedimento compositivo.
Assim, o que podia resultar em
uma colagem desengonçada de diferentes jeitos de operar a improvisação, na
verdade vem reforçando ainda mais, meu interesse por lógicas encarnadas em
nossas práticas cotidianas e dançantes.
Para além da capoeira, duas outras práticas
atravessam e interpenetram esta pesquisa. Sendo elas o contato-improvisação e o
método de composição em tempo real, elaborado por João Fiadeiro. Práticas que
se distinguem radicalmente em seus modos de operar, até mesmo, porque em cada
um desses "fazeres", a improvisação é exercitada com e para fins
distintos.
Além disso, é bom lembrar que
tais práticas ganham relevos e nuances infindáveis a depender da forma como
cada artista reinventa no corpo e na dança, os pensamentos imbricados a estas.
O que poderia trazer inquietude pelas divergências desses modos de operar, tem
servido para entender a ambivalência de princípios éticos que eu, como
professora e artista venho exercitando.
Fabuloso tem sido perceber que a
afinidade por alguns pensamentos dessas práticas, tem-me feito corpo. Uma
camada de corpo que assim como Fiadeiro
e Eugênio propõe em seus laboratórios, cresce para dentro e não para fora. Uma
pesquisa que é vida e uma vida que torna-se pesquisa.
Essa é a corporalidade em
expansão; nada de construção ou desconstrução e sim, uma gestação silenciosa
que tem matéria em forma de mente-ação e que ganha corporalidade no trajeto
desta pesquisa artístico acadêmica.
... na inquietude de me enxergar
entre tantos conceitos e entendimentos percebo-me novamente espiralando-me em
torno do meu ponto de ignição. Ver o que tem fora da capoeira e que me faz até
agora, falar e fazer a capoeira. Uma prática marginalizada e comumente
distanciada do que alguns artistas consideram contemporâneo.
Neste trajeto, tornam-se cada vez
mais relevante dois pontos convergentes destes fazeres:
* modos de percepção que
transgridem regras e convenções sociais na forma de interagir e dialogar e que
pode ser sintetizada por uma percepção
peculiar sobre as coisas no mundo e o "mundo" que existe nas coisas...
* práticas que vão para além do
entendimento de técnicas corporais, apresentando jeitos cotidianos de ser. A
capoeira Angola e o contato-improvisação nesse sentido, são abordados como
práticas que se inserem historicamente como práticas sociais.
A capoeira como prática cultural
de resistência e transgressão - uma prática extra-cotidiana - e o
contato-improvisação como um movimento artístico-cultural transgressor do
universo artístico. Já o método de composição em tempo real, se constrói neste
espaço-tempo, investindo na "relação-tensão entre política, ética e quotidiano". Assim, vida e arte são
estudadas como possibilidades para a improvisação.
Esta texto número um se finda
aqui, ele é ativado por palavras,
sentidos e pensamentos e não alimenta futuro nenhum, desenvolve em mim o
encontro dos meus desejos, já há um ano.
[1] Primeira tentativa de
organizar o pensamento artístico sobre nossas capoeiranças. Digo nossas, pois a
pesquisa vem sendo realizada com o envolvimento de outros quatro pesquisadores
assistentes, sendo estes: Thaynã Mota, Tiago Ferro, Carolina Montenegro e
Gabrielle Conde.
***
Esboços sobre a organização
espacial da cena das espirais
( Discussão e exemplificação do
enquadramento do olhar do público a partir da organização organização
perceptiva dos dançarinos - (primeiro e segundo plano) ).
Por Gabriela Santana
Esboços sobre a organização espacial da cena das espirais
( Discussão e exemplificação do enquadramento do olhar do público a partir da organização organização perceptiva dos dançarinos - (primeiro e segundo plano) ).
Reflexão - por Tiago Ferro
01/05/2012
Sempre ouvi dizer que a vida é feita de escolhas, NOSSA! Como é difícil optar por uma delas, muitas vezes escolhemos errado, mas geralmente preferimos que seja assim, afinal é uma decisão tomada por nós mesmos. E quando vem aquela culpa? Quando seus pais ou alguém importante pra você acertaram nos conselhos? O que importa é realmente o poder da tomada de decisão... É muito bom acertar. Errar, também te fortalece, mas o sabor de ter um decisão só sua é o próprio prazer da vitória... Muito bom refletir sobre as relações de poder. Reflexão é uma palavra incrível, a dança me deu esse prazer, me sinto mais presente e intervindo no espaço, não apenas ocupando-o. Alguns entendimentos só acontecem depois de um tempo, com outras vivências e associações, muito feliz com o que tenho encontrado nessas escolhas de caminho.
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Poesia 1 – por Thaynã Motta
01/03/2012
Relações atravessadas
O que olhou primeiro,
meu pé ou tua mão?
Digo: sua mão...
Acreditando que nada me deve
Imagine!
Se tudo que te olha, te chama
Ou... se tudo que deseja
lhe corresponde.
Que confuso a vida
Sem saber para onde apontar
E se agora meu ombro te queixa
E teu queixo se toca por outrem
A quem posso afirmar, que olhei primeiro?
Confuso e assombrado
Esse jogo de procurar e chamar
Confuso e assombrado
Esse jogo da procura...
Chamadas...
Atravessos
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